quinta-feira, 17 de julho de 2014

Consequências psicológicas do dinheiro

Psicologia do Dinheiro

Nas ciências, na filosofia e nos ditados populares, o dinheiro já foi visto pelos mais diversos pontos de vista, tanto positivos quanto negativos. 


No artigo The Psychological Consequences of Money publicado na revista Science os autores realizam uma série de experimentos e concluem que o dinheiro faz as pessoas se sentirem autossuficientes e leva as pessoas a agirem de acordo com isso. Dinheiro levaria as pessoas a conseguir atingir os seus objetivos sem a ajuda de outros.

Nesses testes, examinadores trabalharam com o “conceito” de dinheiro e não com propriedades ou posses, procurando estimular inconscientemente a noção de dinheiro e examinar seus efeitos nos participantes. O objetivo era relacionar o estímulo “monetário” com atitudes na direção de agir por conta própria, seguindo a hipótese inicial do estudo. Contrariamente, falta de dinheiro deveria fazer com que as pessoas se sentissem ineficazes.

No primeiro teste, os participantes desempenhavam inicialmente uma tarefa de desembaralhar palavras, alguns resolvendo o problema com palavras neutras (não relacionadas com dinheiro) e outros com palavras que remetem a dinheiro. Em seguida, participaram da resolução de outro quebra-cabeça. Aqueles que tiveram o estímulo relacionado a dinheiro demoraram mais para pedir ajuda.

No experimento 2, os examinadores testaram manipular os estímulos positivos (abundância de dinheiro) e negativos (falta de dinheiro). Em seguida, submeteram os participantes a um desafio insolúvel sem ajuda e aqueles que receberam os estímulos positivos foram os que mais demoraram a pedir ajuda.

O terceiro teste verificou agora a disposição para ajudar. Primeiro, passaram pelo primeiro desafio assim como no experimento 1. Depois, uma pessoa pede ajuda para o participante para decodificar uma planilha de dados, deixando a critério do participante decidir em quantas planilhas irá ajudar. Aqueles que receberam o estímulo em torno do dinheiro se voluntariaram menos do que o grupo de controle.

O experimento 4 utilizou novamente as tarefas para oferecer o estímulo e depois colocou os participantes para preencher questionários irrelevantes. Um auxiliar dos examinadores aparecia e resolvia uma tarefa, em seguida pedindo ajuda para o participante e o tempo gasto no auxílio era a variável de interesse. Aqueles que receberam o estímulo em direção ao dinheiro foram menos prestativos.

O quinto experimento verificou se a ajuda nas demais situações tinha a ver com habilidades, a ajuda exigida sendo a de meramente recolher lápis caídos. O estímulo foi diferente, com os participantes jogando Banco Imobiliário por alguns minutos e depois dando muito, pouco ou nada de dinheiro de Banco Imobiliário para o participante. Em um segundo passo, os participantes que receberam bastante dinheiro tiveram que pensar em um futuro abundante em termos financeiros, os que receberam menos em um futuro financeiramente ruim e os que nada receberam (que agiam como controle) em planos para o futuro. No fim, um auxiliar simulava um acidente deixando cair vários lápis e o participante ajudava a recolhê-los. Consistente com os demais testes, os que receberam o estímulo monetário positivo ajudaram menos do que os que receberam estímulo negativo ou o grupo de controle.

O sexto teste envolveu caridade. No início, foram dados 2 dólares em moedas de 25 cents para cada participante. Em seguida, participaram de um teste parecido com o 1, terminando com o preenchimento de um questionário que supostamente deveria ser o teste de verdade. No final, foram pedidas doações para a universidade. Aqueles que receberam o estímulo em torno do dinheiro doaram menos do que o grupo de controle.

Por fim, os últimos testes examinaram outras questões relacionadas com a “autossuficiência”. No teste 7, o estímulo agora era ver um descanso de tela (vulgo, screensave) com ou sem estímulo relacionado a dinheiro. No final, foi pedido para que o participante se aproximasse de outro para conversar um pouco e a variável dependente era a distância entre as cadeiras. Aqueles que receberam o estímulo relacionado a dinheiro ficavam em média mais distante do que o grupo de estímulo neutro ou de controle.

O teste 8 foi parecido com o 7 e no final foi passado um questionário com diversas atividades que podiam ser desempenhadas sozinhas ou em grupo. Aqueles que receberam o estímulo relacionado a dinheiro (um pôster com vários tipos de moedas) optaram mais pelas atividades solitárias. Por fim, o teste 9, que teve os mesmos tipos de estímulos do 7, pediu para que os participantes optassem por trabalhar sozinhos ou em grupo na elaboração de um anúncio. Assim como os demais testes, aqueles que receberam o estímulo relacionado a dinheiro optaram mais por trabalhar sozinhos.

Em todos os testes, a diferença entre o estímulo neutro ou nenhum estímulo era estatisticamente nula, indicando que o efeito está isolado na lembrança de dinheiro, em especial lembrança positiva.


Esse estudo indica que pensar em dinheiro faz a pessoa se sentir mais autossuficiente, diminuindo o senso de comunidade, ajudando menos os outros, mas também pedindo menos ajuda. Sem entrar em juízos de valor, esse artigo tem implicações para Marketing (área de estudo de alguns dos autores), em especial para instituições financeiras, que poderiam pensar em como esse senso de autossuficiência pode ser explorado em sua comunicação com o cliente.

Fonte da imagem: Mark Morgan no Flickr.

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