quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Objetivo da empresa é criar valor

Value creation, management competencies, and global corporate citizenship: an ordonomic approach to business ethics in the age of globalization
Jornal of Business Ethics. Volume 94. 2010
Ingo Pies, Markus Beckmann e Stefan Hielscher

Esse artigo é uma discussão sobre o ensino de Ética Empresarial nas faculdades de Administração. Propõe-se a responder três perguntas: 1) Qual o objetivo da empresa na sociedade. 2) O que as escolas de negócios deveriam ensinar em aulas de ética empresarial, com base na resposta anterior; 3) Como as empresas podem participar da solução de problemas globais. Parece a primeira vista um artigo na linha de outros com ideias das quais discordei em textos anteriores, mas não é o que ocorre. Os autores passam pelos artigos de Friedman e de Jensen, anteriormente analisados, e cita Ludwig Von Mises de forma que é bastante pró-mercado.

A resposta à primeira pergunta, a de maior interesse para este blog, é que a empresa deve criar valor. A empresa deve envolver-se em diversas interações com participantes que possuem algum grau de liberdade de escolha (por conta da intervenção estatal, essa liberdade não é plena) e, para que as interações ocorram, devem gerar valor aos participantes. Para que possa vender um produto ou serviço ao cliente, deve apresentar uma oferta com benefício superior ao preço do produto, ou o consumidor não compraria. Logo, deve oferecer valor para o cliente. Deve ainda oferecer mais valor para o cliente do que os seus concorrentes. De forma similar, para contratar um funcionário a empresa deve oferecer um emprego que traga mais benefícios do que custos. Para credores e fornecedores, que também são outras empresas, na maioria das vezes, é ainda mais evidente que deve gerar valor para eles. Pode-se afirmar que a empresa é uma forma de coordenar a cooperação de maneira a criar valor para os participantes.

Assim, a empresa envolve cooperação. Há também competição entre os participantes para a divisão do valor gerado e receberá mais valor aquele que possuir o maior poder de barganha. Os autores não tratam disso, mas essas ideias não estão em contradição com a de que a empresa deve maximizar valor ao acionista. O critério para tomada de decisões pode ser a criação de valor para o acionista, o desempenho da administração pode ser medido dessa forma, mas só será possível a criação de valor (ou auferir lucro, se preferir) se a empresa conseguir gerar valor aos demais participantes.

Com base nesse objetivo, o que Ética Empresarial deveria ensinar? A opinião dos autores é que essa disciplina não deve criar pessoas melhores, e sim gestores melhores. A integridade ética de um estudante universitário já está formada (ou deformada) a essa altura, e não cabe à faculdade dar ensinamentos morais. Segundo os autores, o problema não é a existência de gestores “malvados”, e sim que os alunos se depararão com situações com as quais não conseguirão lidar com base apenas em sua ética pessoal.

A sugestão dos autores é que os alunos deveriam adquirir cinco competências: otimização, governança, orientação, recepção e comunicação. A primeira envolve conhecimentos já ensinados na faculdade, a segunda tem a ver com os comportamentos e incentivos dentro da empresa (esquemas de pagamentos, códigos de conduta etc.), a terceira dita (por meio de declarações de missão, visão, objetivos etc.) como a empresa espera criar valor e as duas últimas

Quanto à terceira questão, os autores apontam que as empresas deveriam, em seu interesse próprio, ter um papel de liderança para aumentar o conhecimento sobre barreiras à interação e à criação de valor. Uma maneira de fazer isso é usar de influência política para discutir problemas globais (o problema é que pode influenciar de uma maneira negativa). A melhor maneira (na minha opinião) das empresas lidarem com problemas sociais é incluir a “base da pirâmide” entre seus clientes, conforme ideias de C.K. Prahalad e Stuart Hart. Nas palavras dos autores do artigo, o problema não é que os pobres sejam explorados pelas empresas, e sim que são excluídos da interação com elas.

Em suma, o objetivo das empresas é criar valor para a sociedade, o que inclui criar valor para o acionista.

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