sexta-feira, 26 de março de 2010

Não nascemos avessos a risco

(Risk-seeking behavior of preschool children in a gambling task)
(o título do post certamente não pretendia ser uma tradução)
Bruno Moreira, Raul Matsushita e Sergio da Silva
Journal of Economic Psychology. Volume 31. 2010

O ponto de partida mais comum para a análise da tomada de decisão das pessoas supõe aversão a risco, ou seja, tendo que escolher entre duas alternativas de mesmo valor esperado, escolhe-se a alternativa de menor risco e exige-se uma recompensa maior para escolher a alternativa de maior risco. (Não vou tratar agora de teorias alternativas a essa).

Esse artigo de três pesquisadores brasileiros analisa o comportamento de crianças de quatro a seis anos em relação ao risco. A razão de escolher essa idade é que as crianças já possuem alguma independência em relação aos pais (diferente de um recém nascido), já são capazes de lidar com contas e possuem pouca experiência, de forma que não devem ter tomado muitas decisões sujeitas a risco, por mais triviais que sejam. Outras variáveis como gênero, comportamento (analisado pelos professores dos alunos) e a proporção do dedo indicador em relação ao anular (2D:4D ratio) que, segundo estudos, influenciam uma série de comportamentos.

Foram selecionadas 100 crianças que foram submetidas a um experimento em duas etapas. O experimento consiste em oferecer um copo meio cheio de suco ou a possibilidade de receber um copo cheio ou um copo vazio com iguais chances. Pelo exposto no primeiro parágrafo, a escolha deveria ser pelo copo meio cheio recebido sem risco, já que o valor esperado da opção com risco é o mesmo (Copo cheio com 50% de chance ou copo vazio com 50% de chance equivale a um copo meio cheio), mas o risco da primeira opção é menor. A segunda etapa é idêntica, mas espera-se que os resultados mudem para incorporar o efeito do aprendizado no processo.

A metodologia do estudo utilizou a regressão logística para separar o efeito das variáveis na probabilidade da criança escolher a alternativa de risco na segunda etapa. Por conta disso, será dito “chance de” para se referir aos resultados, e não algo como “20% das crianças escolheram a alternativa de risco”. As evidências mostraram que as crianças que tiveram uma experiência negativa (ou seja, copo vazio) mostraram uma chance de apenas 22% de escolherem a alternativa arriscada, enquanto que a chance para as crianças que tiveram uma experiência positiva era de 95%. Ou seja, nota-se um certo aprendizado que muda a relação com o risco. Analisando o comportamento, há a chance de 33% das crianças consideradas calmas independente da experiência anterior escolherem a alternativa de risco nas duas etapas. Diferenças nas proporções dos dedos influenciaram as decisões na primeira etapa, mas não influenciaram os resultados da segunda etapa. Ou seja, crianças com menor relação 2D:4D (ou seja, com anulares maiores em comparação com o indicador) não apresentaram maior chance de escolher a alternativa de maior risco só por conta dessa variável. Mulheres são mais avessas a risco do que homens e meninas também são mais avessas a risco do que meninos, como o estudo constatou.

A conclusão do artigo é que não nascemos avessos a risco, mas aprendemos a ser avessos a risco com más experiências. O mesmo talvez possa ser aplicado para investidores, com os investidores menos experientes demonstrando comportamento de busca a risco e investidores mais experientes (existem artigos que examinam isso, mas ainda não os li). Se for assim, o mais recomendável para os investidores é se deparar com o copo vazio o quanto antes, para diminuir possíveis prejuízos futuros.

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