sexta-feira, 12 de março de 2010

Bolha pontocom: 10 anos

Introdução
Em 10 de março de 2000, o índice Nasdaq Composite das empresas de tecnologia marcou 5.132,52 pontos, seu atual topo histórico. Esse é o marco didático do estouro da bolha ponto com, período no qual as empresas do setor de tecnologia (o que inclui, mas não se restringe a empresas de internet) viviam uma efeverscência que levou o Nasdaq Composite a uma alta rápida e elevada, seguida de uma fulminante queda. Escrevi mais sobre isso em detalhes em outro lugar.

Este texto irá tratar de como essa bolha operou, citando alguns casos exemplares. Uma das características desse momento do mercado foi a crença de que “as regras haviam mudado”. Um texto futuro analisará alguns livros e artigos escritos durante ou após a bolha que afirmavam (corretamente) o contrário, que as regras não haviam mudado. Um outro texto (que talvez não seja escrito) poderá tratar de algumas discussões sobre a bolha, quais os fundamentos que a sustentaram (ou supostamente o fariam) e sobre o que pode ter contribuído para inflar essa bolha. No fim, algumas conclusões em cima desses textos.

Caracterização, início e estatísticas da bolha ponto com

Entende-se como a bolha tecnológica o período no qual as ações de tecnologias listadas na Nasdaq atingiram níveis irreais, muito além da capacidade de geração de resultados futuros. Uma das características desse período foi o mercado “ultra quente” de ofertas iniciais dessas empresas, recém criadas a partir de não mais do que uma vaga idéia que passaram a valer milhões (até bilhões) assim que estreavam na bolsa de valores.

É necessário definir incialmente quando exatamente a bolha das ponto com começou. DeLong e Magin (2006) trataram dessa questão. A IPO da Netscape em Março de 1995 teve as características peculiares da bolha, subindo 108% no primeiro dia, e houve ainda o discurso de Alan Greenspan sugerindo (não afirmando) a existência de uma “exuberância irracional”, porém, esses anos devem ser excluídos da bolha. A IPO da Netscape não foi um evento seguido de muitos outros com resultados tão explosivos. Se alguém tivesse investido no Nasdaq Composite em 1995 ou em 1996 teria ainda hoje um retorno positivo (porém, muitíssimo menor do que era o retorno em 2000). Assim, os autores preferem restringir o período de vida da bolha ponto com a um período menor entre 1999 e final de Março de 2000.

Segundo dados de Jay Ritter, foram 421 ofertas de empresas de internet entre 16/02/1990 e 10/03/2000, sendo 323 entre 1999 e 10/03/2000. Em 1999 e no primeiro trimestre de 2000, 163 ações dobraram de preço no primeiro dia de negociações; para quem gosta de IPO, esse número mostra que as ofertas no Brasil são bem pouco lucrativas no primeiro dia comparado com as ofertas americanas (após 2000, ainda três ofertas dobraram de preço no primeiro dia nos Estados Unidos); para quem não gosta (a turma da “bolha das IPOs brasileiras”) perceba que a valorização no primeiro dia é bem tímida no Brasil. As médias das valorizações no primeiro dia nas ofertas feitas nos Estados Unidos de empresas de tecnologia em 2000 e 2001 foram 57% e 45,6% (ponderado por valor de emissão).

Casos

Cisco Systems
A Cisco Systems, um dos ícones desse período, chegou a ser a maior empresa de capital aberto dos Estados Unidos. Em 27 de Março de 2000, a Cisco ultrapassou pela primeira vez a Microsoft (empresa pré bolha) com US$ 555 bilhões em valor de mercado e P/L de 222,4. Hoje, a empresa vale por volta de US$ 149 bilhões e P/L de 25 e faz parte do Dow Jones Industrial Average.

AOL
Em Janeiro de 2000, a AOL protagonizou o que deveria ser o ápice do sucesso das empresas de tecnologia, a fusão com a Time Warner por um valor de US$ 166 bilhões (em ações). Seria a dominação da nova economia sobre a velha economia. Porém, com o tempo, a velha economia retomou a dominação dentro da AOL Time Warner, com a Time Warner gerando resultados e a AOL gerando prejuízos colossais. A AOL Time Warner passou a ser novamente Time Warner e no ano passado, a empresa fez o spin-off da AOL que passou a ser listada como uma empresa separada.

Amazon
Contrário às duas demais empresas, a Amazon está melhor hoje do que no período da bolha. Seu valor de mercado estava em US$ 23 bilhões em 10/03/10 e hoje está por volta de US$ 59 bilhões. A empresa só foi ter seu primeiro lucro trimestral no quarto trimestre de 2002 e anual em 2003. O P/L de 2003 ao preço do final de 2003 estava acima de 600 e hoje por volta de 65, sendo que o valor de mercado triplicou de lá para cá. Pode-se, apressadamente concluir que as perspectivas para a Amazon eram razoáveis no final do século passado, embora não se possa dizer o mesmo do restante. (e não analisarei agora mais do que isso).

Comentários de O investidor inteligente
Na minha resenha do O investidor inteligente, não tratei dos comentários de Jason Zwig. O primeiro motivo é espaço. O segundo é que, apesar dos comentários serem pertinentes, sempre me desagradou a “voz” desse comentarista nesse livro. Porém, agora esses comentários serão muito úteis.

O comentarista tratou da VA Linux no capítulo 6, uma empresa que chegou a valer quase US$ 13 bilhões e três anos depois virou pó. Trajetória semelhante teve a eToys, analisada no comentário do capítulo 17. Os comentários dos capítulos 17 e 18 analisam diversos outros casos, incluindo Lucent, Yahoo e Cisco. O caso mais curioso (também analisado por DeLong e Magin) foi o da 3Com e da Palm, a primeira sendo dona da segunda. Ao preço da ação da Palm, o valor da participação da 3Com na empresa superava sozinha o seu valor de mercado, fazendo com que o restante da 3Com devesse ter valor negativo, o que não faz sentido algum.

Fontes:
Economática
Google Finance

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