quinta-feira, 30 de abril de 2009

Balanços dos Clubes Paulistas de Futebol

Apresento alguns destaques dos demonstrativos financeiros dos quatro grandes clubes de futebol de São Paulo. Não trato dos demais clubes de São Paulo para não me estender muito. Não trato de clubes de outros estados não apenas por bairrismo, mas por não ter esses balanços. Os números do São Paulo, Corinthians e Santos foram tirados dos sites dos clubes (no caso do São Paulo, de outras fontes também) e os do Palmeiras do Diário Oficial de São Paulo. No Rio de Janeiro, apenas o Flamengo disponibiliza o balanço em seu site (ainda não divulgou o de 2008), em Minas Gerais apenas o Cruzeiro (sem 2008) e no Rio Grande do Sul não encontrei os balanços. Nos demais estados, não procurei.

Os valores estão sempre em R$ mil.



Nos últimos 6 anos, o São Paulo foi o que teve mais receita líquida exceto em 2005, quando o Santos teve a maior receita, mas por conta da venda de jogadores (como o Robinho). Tirando as receitas com venda de jogadores (valor muito volátil), o São Paulo sempre teve a maior receita.

Nesse quesito, a comparação com o Corinthians é importante, já que este possui, notoriamente, a maior torcida do estado. Nas receitas declaradas pelo Corinthians no departamento de futebol, os valores são próximos (entre parênteses, o quanto a receita do São Paulo é maior): Direitos de transmissão de TV (+1.689), Patrocínio, incluindo Lei de Incentivo (+2.717) e Arrecadação (+168), somando uma diferença de 4.574. Mas o São Paulo teve outras receitas como premiações em campeonatos (a premiação pela Série B do Corinthians deve estar em Outras Receitas), receita com Projeto Sócio Torcedor e Licenciamento de Marca. O Corinthians tem maior receita no clube social e esporte amador, mas o São Paulo tem receitas com o estádio (19.243).

Em 2004, o Palmeira tinha o maior Patrimônio Líquido, seguido de São Paulo e Santos. O São Paulo passou a ter mais Patrimônio por não ter tido prejuízo entre 2004 e 2008 e o Palmeiras ter tido vários prejuízos. O lucro somado de 2003 a 2008 do Palmeiras foi negativo (-82.422), assim como o lucro somado do Corinthians (-50.485). Apesar de ter acumulado lucro, o Santos teve o Patrimônio reduzido por conta da amortização de direitos federativos (o clube registrava os direitos federativos em seu ativo realizável a longo prazo, o que não é muito razoável).

Análises








Liquidez Circulante = Ativo Circulante/Passivo Circulante
D/K = Dívida Bancária/(Dívida Bancária + Patrimônio Líquido).
g = Crescimento (growth). O crescimento de 5 anos é uma média geométrica.

A liquidez circulante de todos esses clubes está abaixo de 1. Isso significa que tudo o que os clubes têm a receber até os próximos 360 dias é insuficiente para pagar tudo o que devem até os próximos 360 dias. Esse número, sendo realista, não é tão preocupante, já que os clubes há tempos adiam o pagamento de alguns passivos (direito de imagem, obrigações tributárias, etc.). Mais preocupante é a relação D/K, já que os bancos são credores menos complacentes. Santos e Corinthians estão em pior situação com um endividamento elevado. É pior para entidades sem fins lucrativos tomar empréstimo bancário já que não pagam imposto de renda e, por isso, não há benefício fiscal da dívida.

A Ponte Preta, não inclusa na análise, é um caso interessante (e trágico). A liquidez circulante é de 0,01, mas a dívida bancária é zero. Essa situação não é nova e não parece que vá mudar, mas os credores não requisitaram a falência do clube. Esse caso é parecido com a Pro-Metalurgia (antiga Bicicletas Caloi), só que com dívida elevadíssima com debêntures, que parece que nunca serão pagos, mas sem que os debenturistas peçam a falência da empresa.

O crescimento de receitas nos últimos 5 anos subiu em todos os casos, o São Paulo crescendo menos (por já ter uma receita elevada). Em 2008, o número apresentado é enganoso, já que leva em conta as receitas com venda de jogadores. Corinthians e São Paulo venderam bem menos jogadores, o que levou a uma queda na receita. Desconsiderando essas receitas, a receita de São Paulo, Palmeiras e Corinthians subiu (26,82%, 30,52% e 44,71% respectivamente) e a do Santos teve uma pequena queda (-1,83%). Não pude calcular o crescimento em 5 anos sem venda de jogadores para todos os clubes, já que apenas um clube divulgou esse número em 2003.

O crescimento de lucros em 2008 do São Paulo e do Palmeiras desconsidera em 2007 as despesas extraordinárias com Timemania (os demais não apresentaram esse número). O único resultado realmente positivo é o do Corinthians, com aumento no lucro. O que aconteceu com o Santos foi uma diminuição no prejuízo. Em 5 anos, o Corinthians foi do prejuízo ao lucro e o Palmeiras diminuiu o prejuízo.

Uma explicação sobre os cálculos. O prejuízo do Santos passou de -36.612 para -24.476. A redução no prejuízo (12.136) representa 32,41% do prejuízo de 2007. Em 2003, o lucro do Santos era de 42.956 e passou para -24.476. O lucro caiu 100% mais 43,02% (24.476/42.956) e isso representa uma queda de 20,83% ao ano. Esse número não faz tanto sentido, já que é equivalente a uma queda no lucro de 42.956 para 13.360, mas é o melhor número que consigo apresentar (com juros compostos, é impossível um número positivo se tornar um número negativo).

O prejuízo do Palmeiras em 2003 era de 15.254 e passou para 9.453. Isso representou uma redução de 38,03% entre os períodos. A média geométrica é (1-38,03%) elevado a 1/5 trocando o sinal.

Alguém poderia se perguntar porque uma entidade sem fins lucrativos deveria se importar com lucro. A diferença entre uma organização com e sem fins lucrativos é a destinação do lucro/superávit. Nas empresas, parte do lucro é reinvestida na empresa (aumentando o Patrimônio Líquido) e parte é distribuída aos acionistas. Em organizações sem fins lucrativos, todo o superávit é reinvestido na própria organização, nada indo, supõe-se, aos fundadores. Se um clube ou uma ONG sistematicamente gera déficit, ou terá problemas operacionais (não será competitivos ou não atenderá seu público de forma satisfatória) ou terá que ser financiado externamente (é como se um sócio tivesse que colocar dinheiro em uma empresa para que esta feche suas contas). Os clubes devem tentar sempre ter superávit para terem condições de financiar melhorias em seus times e não depender de dívida (que pode causar problemas financeiros para o clube) ou parceiros (que nem sempre honram essa denominação).

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