sexta-feira, 27 de março de 2009

As Teorias de Expectativas Racionais estão em crise

Theories of rational behaviour are facing crisis. Artigo do Financial Times.

Na hora de buscar culpados, atira-se para todos os lados. A teoria econômica é só mais um alvo fácil entre tantos.

Primeiro, as falhas das Expectativas Racionais não foram apontadas apenas agora. Existe o conceito de Racionalidade Limitada, que os problemas são tão complexos que é simplesmente impossível agir da forma como os modelos sugerem. Nisso, busca-se não uma solução ótima (que seria alcançado por uma modelagem racional), mas uma solução satisfatória que deve ser a melhor possível. Os tomadores de decisão também sofrem com uma série de vieses: o modo como o problema é apresentado pode mudar suas decisões (mesmo que o problema seja o mesmo), pode haver um excesso de confiança ou pode acontecer dele agir de forma oportunista se não estiver sendo monitorado pela pessoa para quem ele trabalha (se for o caso). O mais importante nesse caso é estudar como as pessoas agem com racionalidade limitada, quais as conseqüências disso e como melhorar a toma de decisões, ao invés de simplesmente descartar a idéia de racionalidade perfeita. Alguma concepção de racionalidade deve ser usada; se não existisse a idéia de racionalidade, tudo seria permitido.

Sobre as hipotecas holandesas, o próprio autor já diz qual é o problema do preço de mercado: falta absoluta de liquidez. Há um deságio por liquidez para ativos pouco líquidos e é isso que acontece com essas hipotecas. O comprador de um ativo pouco líquido não sabe a qual preço efetivamente realizará a venda no futuro por conta da elevada diferença entre a melhor oferta de compra e de venda (bid-ask spread). Se o último preço de uma ação foi R$20, a melhor oferta de compra é de R$18 e a melhor oferta de venda é R$22, se você quiser operar imediatamente, precisa pagar R$22 e se quiser vender imediatamente por R$18. Dessa forma, o preço da ação pode ser empurrado para abaixo do que seria justificável pelos seus fluxos de caixa. Não me parece haver nenhuma contradição com o que já sabemos sobre a formação de preço dos ativos.

Não me parece ilógico a Shell tapar o rombo nos planos de previdência agora. Nada, absolutamente nada, garante que o rombo estará menor quando “parte significativa”, como escreveu o autor, dos benefícios terão que ser pagos. O argumento do autor poderia ser aplicado para uma empresa com dívida em dólar, a ser paga daqui a um ano ou mais, após uma alta expressiva do dólar: por que se preocupar agora com isso? Não é isso que eu penso; essa é uma dedução lógica, como diria o autor, desse raciocínio.

Jack Welch não disse nada contra o objetivo da empresa de criar valor para o acionista. Apenas afirmou que isso não é a estratégia da empresa, e sim o resultado de suas estratégias. No futebol, fazer gol não é estratégia, é o resultado do jogo. O que o autor do artigo diria sobre o futebol é que Jack Welch acha estúpido que os jogadores façam gol. Não foi isso que Welch quis dizer. Confira aqui e aqui (atente-se ao que Welch diz, não o que o jornalista escreveu a parte).

Sobre o preço das ações, o autor comete uma série de erros. O preço das ações varia por mudanças nas expectativas de seus fluxos de caixa (como o autor afirma implicitamente), mas também variam com as mudanças na percepção de risco por parte dos investidores (refletido nos prêmios por risco). E não é só a expectativa que mudou, a realidade econômica (PIB, lucro das empresas, etc.) mudou de uma maneira que era virtualmente impossível de se prever ou de se prevenir. Os preços devem se ajustar de acordo com essas mudanças todas.

A crítica feita à remuneração com base na valorização das ações é válida, mas erra o alvo. O alvo certo não é toda a idéia de que os administradores deveriam maximizar o valor da empresa, e sim da forma como os incentivos são dados. O administrador não deveria ser remunerado pela alta no preço das ações, já que isso tem a ver com fatores fora do controle do administrador (o mercado como um todo pode estar em alta ou queda, por exemplo).

A idéia de que todos os administradores deveriam ser considerados idiotas se a teoria valesse alguma coisa é furada. O fato da ação cair menos do que deveria (ter um retorno ajustado ao risco positivo, apesar de um retorno nominal negativo) poderia ser por conta da ação do presidente na empresa, que tomou boas medidas para amenizar os efeitos da crise. Se ele deveria ser remunerado por isso ou não é outra história.

Os acionistas devem ter interferência na empresa sempre, com mercado em baixa, com mercado em alta, ou com mercado de lado. Não entendi a crítica feita pelo autor a esse respeito.

Nas crises, a maioria dos conceitos não são revisados a sério. Na verdade, as pessoas se dão contam que entendiam mal os conceitos que pensavam dominar.

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